Nem todos os factos que ocasionamos no passado são dignos de aplauso e
de bom orgulho. Na bagagem fluídica cada qual tem o bom e o mau, de sua própria
lavra. Todavia, não podemos voltar ao passado, para nele substituir os maus
feitos por bons feitos. No presente, sim, podemos aprender a usar as
ferramentas espirituais (raciocínio e vontade, nomeadamente) para governar o
livre-arbítrio insistentemente para o bem, ao mesmo tempo que consolidamos no
âmago mais e mais repugnância à insistência no erro, origem de sofrimentos
desnecessários.
Se a responsabilidade é nossa, temos de suportar humildemente as consequências
dos nossos maus pensamentos, sentimentos e procedimentos, diante da
insensibilidade da força-lei de causa e efeito, sem jamais esquecer que nada
pode destruir o espírito, ou alma espiritual eterna, nem pulverizar os seus
tesouros em afloramento e crescimento eternos.
Nesses casos, é preciso analisar os erros cometidos, tirar as lições que
eles nos possam dar e, após, esquecê-los, empregando bom senso, coragem e
determinação para executar essa pauta.
É grave erro passar o tempo a ruminar e a avolumar erros efetivamente cometidos
ou fracassos sofridos. Preocupar-se excessivamente com factos já acontecidos, é
como serrar serradura, ou como moer trigo com águas passadas – o que só é
possível fazendo mau uso da imaginação, ou pensando desenfreadamente. Ora, quem
serra serradura, quem moi trigo com águas passadas, faz mau uso do seu
livre-arbítrio ao “serrar”, estupidamente, rugas no rosto e úlceras no estômago.
Muitas pessoas têm o mau hábito de viver excessivamente voltadas para
coisas que fizeram ou disseram, e criticando-se severamente, achando que podiam
ter feito melhor…
Para quando sofrermos um revês, isto é, para quando apanharmos um daqueles
“tapas” da vida que geralmente abatem o ser humano, decidamos intransigentemente
imitar o ex-campeão mundial de boxe, Jack Dempsey, quando disse, após perder o
título: “vou encaixar este directo aos
queixos, sem consentir que ele me derrube!”
“Tornou-se tão ocupado que não dispunha nem de tempo nem de vontade para
se preocupar [excessivamente] com o passado.”
Dale
Carnegie
Isto, sim, é saber encarar as situações adversas, no plano do pensamento
como no plano da acção, aceitando-as como artifícios fantásticos para nos
conduzir no processo da evolução, mas de seguida desprendendo-se delas, a fim
de concentrar demoradamente a atenção na construção de um futuro melhor, com
mais recursos e mais razões para nos sentirmos meritoriamente felizes.
“Porque desperdiçamos lágrimas? Não há dúvida de que [pelo mau uso do
livre-arbítrio] somos culpados [ou, retrospectivamente responsáveis] de muitos
erros e absurdos. Mas quem não foi culpado? Até mesmo Napoleão perdeu um terço
das batalhas em que se empenhou.” Dale Carnegie
Neste degredo que hoje compartilhamos, cumpre-nos no dia-a-dia varrer do
espírito os infortúnios, aceitar calmamente as agruras da vida e procurar
levá-la o melhor possível, até um dia...
Após serrar a madeira, é estupidez serrar serradura
Por Francisco da Cruz Évora – S. Vicente de Cabo Verde
N. B. – Este apontamento baseia-se no livro de Dale Carnegie agora intitulado Como Deixar de se Preocupar e Começar a Viver.