Humberto
Machado Rodrigues (A RAZÃO, 2017: 11) dissertou da seguinte maneira sobre as diversas
concepções filosóficas existentes no planeta Terra em uma de suas doutrinações
expostas no jornal A Razão:
“Pesquisar e estudar as religiões não constitui
demérito algum para os racionalistas cristãos convictos de sua filosofia
doutrinária e disciplinar [...]. Líderes que tiverem em vida física matizes filosóficas
distintas fortalecem seus adeptos com fluidos purificadores, zelando pelo desenvolvimento
psíquico de cada um, como faz o Racionalismo Cristão, que tem seus próprios conceitos”.
Feito esse esclarecimento, usaremos à
ciência da interpretação – intitulada hermenêutica – para compreender as críticas
do Santo Agostinho em contraposição às ideias do filósofo Platão.
Concomitantemente,
faremos associações e complementações para melhor esclarecer os fundamentos
filosóficos e teológicos sobre o fenômeno das “transmigrações das almas” à luz
da Filosofia Racionalista Cristã, sem efetuar críticas ou julgamentos. As
citações escolhidas estão transcritas no primeiro volume do livro “A Cidade de
Deus” (426 D.C.) do teólogo Agostinho e na obra “A República” (380 a. C) do
filósofo Platão.
Para o Santo
Agostinho, a única verdade está contida no “Verbo Sagrado”, isto é, a Bíblia: o
Antigo e o Velho Testamento. Por intermédio desses dois livros, ele fundamentou
análises e censuras frente às interpretações platônicas referentes ao fenômeno
das “transmigrações das almas”:
quando a alma (o espírito e o corpo
fluídico) deixa o corpo (matéria densa) e retorna ao mundo das ideias.
Agostinho
não hesitou em definir o platonismo como um dogma perpétuo das passagens das
almas da morte à vida e da vida à morte (AGOSTINHO, 1996). Essa é uma das
principais incógnitas do platonismo, pois Platão o mesmo definiu que esse
processo das “transmigrações das almas”, termina quando à alma retorna ao mundo
das ideias.
No livro “A República”, o ateniense
possibilita interpretar que, as almas luminosas (muito evoluídas), retornam ao
mundo com o intuito de retirar os homens da escuridão (uma das ideias do mal em
Platão), por meio da Filosofia.
Contudo,
os indivíduos que possuem esse tipo de alma são mortos pela ação daqueles que
não sabem nada em relação às leis do cosmo – o que para o teórico equivale ao
próprio “Deus”. Por conseguinte, por meio dessa abordagem dá-se a compreender
que essas “almas luminosas” só retornam ao mundo por uma necessidade espontânea
de ajudar àquelas que ainda interpretam o mundo das aparências (falsas ideias e
o mundo dos prazeres e das emoções terrenas) como à única realidade existente.
Apesar de Platão especificar as características das pessoas (os níveis
espirituais) através da parábola dos distintos tipos de metais com um modo de simbolizar
as diferentes capacidades individuais das pessoas (DURANT, 2000), tornou a
desenvolver explanações confusas quando escreveu que as almas sempre existiram:
elas contemplam o mundo das ideias e depois se aprisionam a terra (o planeta de
escolaridade), e, no fim, retornam novamente, de onde vieram. Oque não
justifica, portanto, os níveis de desenvolvimento espirituais dos espíritos
encarnados no mundo Terra.
De modo
contrário a essa interpretação, o ateniense determinou que a origem das almas provenha
do mundo das ideias ou de Deus (representada pelo Sol, nos livros do Platão),
e, ainda, que são naturalmente superiores e inferiores, pois “sois irmãos,
porém Deus vos fez diferente” (DURANT, 2000: 73).
O filósofo católico criticou exatamente esse “enigma” na filosofia platônica, perguntando-se sobre o “como” e o “por que” das almas serem tão heterogêneas. Como vimos Platão não explicou contundentemente esse problema. Pois, ao construir argumentos inconvincentes sobre o processo reencarnatório, deu a entender que esse ciclo é limitado, ou seja, que ela ocorre apenas uma única vez.
O filósofo católico criticou exatamente esse “enigma” na filosofia platônica, perguntando-se sobre o “como” e o “por que” das almas serem tão heterogêneas. Como vimos Platão não explicou contundentemente esse problema. Pois, ao construir argumentos inconvincentes sobre o processo reencarnatório, deu a entender que esse ciclo é limitado, ou seja, que ela ocorre apenas uma única vez.
Agostinho, porém, obteve suas respostas nos episódios bíblicos. Segundo ele, as diferenças existem porque
alguns (profetas e santos) foram escolhidos por Deus – por predestinação – para
disseminaram as palavras do “Verbo” (Bíblia) pelo mundo para efetivar a “dádiva
sagrada”: retirar os bons dos prazeres da “carne” que se instaurou no mundo com
o pecado de Adão e Eva, quando esses comeram o fruto – simbolizado pela maça.
Em última instância, trata-se de uma questão de livre-arbítrio: a Verdade está
contida na Bíblia e foi revelada por Jesus (filho de Deus que se fez filho do
homem ao encarnar no mundo), quem o negá-lo, irá para o Inferno.
Por conseguinte, Agostinho contínua
efetuando suas críticas às ideias do pensamento platônico, ao defender a tese
cristã da ressurreição das almas salvas por Deus no dia do Juízo Final, por ser
mais coerente “acreditar que as almas retornam uma vez aos próprios corpos que
acreditar que retorna muitas em diversos corpos!” (AGOSTINHO, 1996: 428). Ainda
disse enfaticamente: “A alma do homem pode assumir essa carne sem pecado, revesti-la,
depô-la na morte e melhorá-la na ressurreição” (AGOSTINHO, 1996).
Deste modo, o santo não deve ter queimado
muito o seus neurônios para analisar essa situação em todas às suas
interpretações multifocais, já que sua resposta estava contida na Bíblia.
Assim, pôde definir que é impossível à alma querer retornar para a imundice e a
sujeira deste mundo cheio de pecados, preferindo mais o corpo à alma, a
transitoriedade do mundo a eternidade (AGOSTINHO, 1996). Para Agostinho, quando
as almas forem salvas por Deus no dia do Juízo Final, ao subirem rumo ao céu,
os bons e os justos se desvincularam das misérias terrenas e dos maus
(Ibidem).
Para ele, era uma loucura
definir que uma alma sendo salva por Deus e, por isso, ser eterna, querer retornar
ao mundo. Logo – prossegue o clérigo – é por meio da Igreja e os fundamentos
teológicos que as distinções e as salvações da alma podem ser compreendidas de forma coesa como um todo. A consequência, por fim, seria a implementação da
“Cidade de Deus” na Terra, um elo entre o céu e a terra. Todavia, ele nos
parece um tanto quanto hesitante em alguns momentos em relação a esse tema, pois,
em alguns trechos de sua obra magna, não deixa de explicitar que suas próprias interpretações
– entenda-se à Bíblia - pode ser uma loucura histórica, “pois o que parece louco em Deus é mais sábio que os homens. E o fraco
em Deus é mais forte que os homens. Eis a loucura” (AGOSTINHO, 1996:
424).
Esses questionamentos efetivados
por Agostinho, ao interpretar os “mistérios da alma” na filosofia platônica,
também devem ter intrigado o Luiz de Mattos quando o mesmo estudou o filósofo ateniense. Pois Platão não respondeu dois pontos cruciais
que foram delimitados coerentemente na Filosofia Racionalista Cristã: a explicação
racional sobre os diversos níveis espirituais existentes no planeta Terra e
processo reencarnatório.
Como sabemos o aspecto central que colaborou para o
português codificar os fundamentos e conceitos do Racionalismo Cristão, deveu-se,
significantemente, a leitura do livro Força e Matéria (1855), do escritor
Ludwig Büchner (1824-1899). Ele foi um materialista-evolucionista. A criação do
cosmo, para ele, era resultado da preponderância da Força – poder criador e
transformador – sobre a Matéria – composição orgânica amoldável. Igual aos
ensinamentos do Racionalismo Cristão, não é mesmo? Nada disso! Como dissemos
anteriormente, Büchner era materialista e evolucionista, portanto, acreditava
que à Força promove alterações na Matéria, mas, em última instância, segue uma
definição meramente biológica, destituída de explicações espiritualistas. A
influência da teoria evolucionista do Charles Darwin (1809-1882) em sua
laboriosa mente, efetivamente, colaborou para que ele entende-se à evolução, no
fim, apenas como uma consequência das determinações físicas e biológicas.
O que não impossibilitou, consequentemente, a
concatenação lógica das ideias para compreender os fundamentos essenciais
acerca dos fenômenos espiritualistas.
Uma
relação entre Agostinho e Platão acerca do fenômeno das “Transmigrações das
Almas” à luz espiritualidade: uma análise hermenêutica
Por Saulo Pontes
Machado