Ricardo
Manoel era um militante famoso em uma das filiais do Racionalismo Cristão.
Ele
pouco dizia de sua vida para os amigos, mas todos tinham certeza de algo: era
muito evoluído. Não escondia seu potencial, ao contrário, exibia-o.
Era
vaidoso!
Às
vezes não se sabia ao certo se o público estava presente nas reuniões públicas
apenas para ouvi-lo, pelo domínio que exercia nos assistentes quando verbaliza
sua eloquente voz ou se realmente tinham como prioridade obter respostas para
as suas indagações espiritualistas. Esse fato até hoje ninguém respondeu.
Um dia,
porém, algo trágico ocorreu:
Ricardo Manoel desencarnou no domingo à noite, às
23h00min. O tipo de morte? Súbita, arritmia cardíaca. Todos choraram e ficaram
tristes.
Na segunda-feira a filial estava lotada, carros e mais carros se
estendiam na avenida; pelo trânsito, parecia que uma celebridade estava no
local.
No fim
da reunião pública as portas e os portões foram abertos. Vozes ecoavam para
todos os lados e todos se sentiam um pouco angustiados. A conversa de dois
senhores expressava os diálogos comuns daquelas pessoas, quando assim falavam:
-
Mas... Ninguém entendeu nada. Todos saíram sem ouvi-lo, disse um senhor
rabugento.
- Não
era para o Ricardo Manoel falar através de um daqueles médiuns? Ora, isso me
parece estranho..., outro idoso assim se expressou em tom de confusão.
Após o
silêncio, o primeiro retornou a falar: - Pois é eu acho que cheguei a uma
conclusão.
- Ah!
Então, me fale logo, homem, você sabe que não gosto de brincadeiras. Que...
que... já... já... estou nervoso - falou gaguejando -, e seguidamente se expressou
normalizando a voz:
O que me diz, então? Hein, qual sua opinião?
- Eu
acho que ele era muito evoluído, falou. O outro senhor concordou e os dois
regressaram aos seus lares.
Nas
ilusões terrenas, a vaidade é um lar farto, onde se esqueceu de refletir sobre
o Universo.
Um dia
depois o militante passou pelos campos vibratórios e foi ouvido por seus
companheiros do Racionalismo Cristão: seu reflexo expressou sentimentos de
frustração por ter se tornado vaidoso e disse que vai reencarnar novamente.
Conto sobre a vaidade
Por Saulo Machado.